quarta-feira, 11 de maio de 2011

Metade



Que a força do medo que tenho

não me impeça de ver o que anseio.

Que a morte de tudo em que acredito

não me tape os ouvidos e a boca.

Porque metade de mim é o que eu grito,

mas a outra metade é silêncio.


Que a música que eu ouço ao longe

seja linda, ainda que tristeza

que a pessoa que eu amo

seja pra sempre amada,

mesmo que distante.

Porque metade de mim é partida

mas a outra metade é saudade.


Que as palavras que eu falo

não sejam ouvidas como prece

e nem repetidas com fervor,

Apenas respeitadas

como a única coisa que resta

a um homem inundado de sentimento.

Porque metade de mim é o que ouço,

mas a outra metade é o que calo.


Que essa minha vontade de ir embora

se transforme na calma

e na paz que eu mereço.

Que essa tensão que me corroe por dentro

seja um dia recompensada.

Porque metade de mim é o que penso

mas a outra metade é um vulcão.


Que o medo da solidão se afaste,

e que convívio comigo mesmo

se torne ao menos suportável.

Que o espelho reflita em meu rosto

o doce sorriso que eu me lembro

de ter dado na infância.

Porque metade de mim

é a lembrança do que fui,

a outra metade eu não sei…


Que não seja preciso

mais do que uma simples alegria

para me fazer aquietar o espírito.

E que o teu silêncio me fale cada vez mais.

Porque metade de mim é abrigo,

mas a outra metade é cansaço.


Que a arte nos aponte uma resposta,

mesmo que ela não saiba.

E que ninguém a tente complicar

porque é preciso simplicidade

para fazê-la florescer.

Porque metade de mim é a platéia

e a outra metade, a canção.


E que minha loucura seja perdoada.

Porque metade de mim é amor

e a outra metade… também!

Oswaldo Montenegro