Dias melhores
Dias de paz, dias a mais
Dias que não deixaremos
Escolhi esse trecho da música do Jota Quest para tentar explicar um pouco as minhas inquietações. Nos dias atuais, vemos um esvaziamento da esperança e diante de uma sociedade injusta e sectarista podemos verificar certa semelhança com o povo de Israel ao escrever a narrativa da criação no livro do Gênesis.
Nossa realidade hoje é permeada por relações econômicas excludentes, que sacrificam sem dó nem piedade em seus altares os seres humanos despossuídos, tornando-os vítimas de um sistema cruel e desigual. Pessoas que todos os dias recebem uma enxurrada de informações duvidosas, que coisificam gente, obrigando-as fazerem um esforço sobre-humano para sobreviver.
Mas nosso povo não se abala e enquanto são violentados por esse sistema cruel, eles partem em direção a luta, na intenção de amenizar o sofrimento daqueles que virão posteriormente. Filhas (os) e filhas (os) das filhas(os). A música vem bem ao encontro do que estou dizendo. Vivemos esperando porque essa esperança é a nossa comida e a nossa bebida, essa esperança nos move em busca de transformações, essa esperança nos faz crer que ainda existe amanhã.
E esperamos por dias melhores , apesar dos donos do poder tentarem sufocar a voz, o grito está ecoando, apesar de toda a dor e todo o sangue, apesar de toda a luta e todo o sofrimento, apesar das angústias e da opressão. O grito é: Não nos entregaremos, não abriremos mão da esperança!
Essa luta é por dias de paz e os dias a mais, dias em que o direito a diversidade será uma verdade, porque hoje a vida é uma total insegurança. É uma busca por dignidade e autonomia, por respeito e aceitação das diferenças, pela não criminalização dos pobres e igualdade de oportunidades. A violência é um problema grande que atinge muito brasileiros, especialmente os que citei anteriormente: os excluídos do sistema econômico vigente.
A Bíblia nosso livro de fé, é usado muitas vezes como instrumento de opressão e algumas pessoas fazem questão de levianamente levar ensinamentos contrários ao cristianismo, criando com isso comunidades que não tem clareza na interpretação dos textos. Assim promovem a idéia comum do sistema: individualismo! Os ditos cristãos interpretam a vida com Deus, como uma vida sem participação na sociedade civil, sem direitos e sem deveres. Como se os anseios fossem diferentes, sem entender as palavras de Jesus, sobre vida abundante.
Ao contrário disso tudo o que a Bíblia promove desde o início em suas primeiras páginas e até o fim, revela uma grande preocupação com a dignidade humana. Ela se encarrega de promover situações de libertação e conquistas de igualdade social. Além de uma série de outras realizações em prol da pessoa humana, denunciando toda forma de opressão e violência.
O livro do Gênesis caminha exatamente nessa direção. Com uma linguagem simbólica, ele fala sobre a esperança do povo de Israel, não pode ser lido como um texto científico, como alguns tentam hoje fazer, mas deve ser entendido como uma forma que o povo tinha para dar forças e para continuar sua dura caminhada.
Em uma perícope que afirma veementemente que até Deus descansou ao sétimo dia, podemos compreender o anseio de um povo que está fora de sua terra, de sua casa e em situação de opressão e escravidão na Babilônia. Conta em seus versos sobre a necessidade de poderem descansar em determinado período, denuncia o trabalho forçado, escravo. Tornam-se profetas!
A sua fala sobre o sábado fica clara ao lermos esse texto e em sua situação desigual, já que os babilônicos não se guiavam pela semana ela vem como uma exigência. E podem se fiar em seu Deus para legitimar a justiça, quem obedece aos babilônicos, desobedece a Deus, que promove a vida oferecendo descanso para mãos e para o corpo. Quem vive distante da ordenança de Deus está assumindo a posição de idolatria.
Além disso há uma forte questão religiosa em jogo, a discussão sobre a autoridade dos deuses da luz (sol, lua e estrelas). Esses astros eram para os babilônicos deuses sendo o sol o principal. Sentiam-se representantes dele e com no seu poder bélico combatiam a outros povos massacrando-os.
O texto de Gênesis vem trazer novamente a esperança tão necessária à vida. Revelando o poder de Deus (Javé), sobre todos os astros, quem são as estrelas, a lua ou mesmo o sol para que o povo tema. O Deus do povo de Israel é o próprio criador de todas essas coisas, com sua voz o mundo passa a existir. Desfazendo a simbologia que dava legitimidade aos babilônicos e animava suas conquistas. Agora o povo se anima e vê novas possibilidades.
Não é diferente nos dias atuais, somos todos os dias levados a diversas situações de opressão, e temos a leitura do Gênesis para nos motivar, nos animar nessa caminhada por dias melhores. Esse texto pode e deve ser instrumento para unir as pessoas através de sua realidade socioeconômica, assim como no passado deve ser o grito dos despossuídos, dos sem dignidade, dos invisíveis. É um texto que deve trazer consciência no meio da tantas situações conflituosas.