sexta-feira, 28 de junho de 2013

Profetizadoras e profetizadores!

        “ Eu quero, isto sim, é ver brotar o direito como água e correr a justiça como riacho que não seca.”
           Amós 5.24


Todos têm acompanhado através das grandes mídias e também pelas mídias sociais os últimos acontecimentos. Um sem números de pessoas que mobilizadas em prol de objetivos comuns se propuseram a ocupar as ruas de nossas cidades, nossos estados, nosso país. Estivemos juntas, juntos!

A palavra pronunciada pelo profeta Amós em 760 a.C, parece-nos muito propícia para a atualidade. O profeta que fala a partir do cotidiano, que trás a tona as violações de direito, o esmagamento sofrido pelo povo, o terror, a destruição, a. [1] transformação das pessoas em não-gente por causa da opressão
De fato sua análise não recebia a simpatia da maioria, não era compartilhada pela opinião pública, consensual. Ao contrário, sua fala contradizia o sistema político e de certa forma a religião.
Quando saímos às ruas de São Paulo (contexto em que estou inserida), estávamos guiados exatamente por essa fé, é a partir dela que nos posicionamos contra os abusos do poder, e nesse caso especialmente contra o aumento da tarifa para o transporte público. Fomos motivados a lutar por esse ideal e sim vimos que a mobilização do povo, pode nos ajudar nas transformações que tanto ansiamos. Entretanto, acredito que nosso papel enquanto “protestantes”, é muito mais do que juntar-nos às muitas vozes, ou a multidão. Precisamos trazer para nossas comunidades de fé a discussão, o debate, o incentivo a participação na vida pública e a educação política.
A pauta que foi colocada está cumprida, temos muitas demandas ainda, mas é necessário sentarmos e refletirmos sobre como se dará o prosseguimento nessa caminhada.

Hoje temos a grande mídia como incentivadora e vozes desconhecidas ditando nossas pautas de luta, se os opressores apoiam nossa causa, então provavelmente esteja na hora de repensá-las.
No texto que citamos em versículos anteriores a profecia de Amós, critica a religião, suas festas e seus ritos, talvez seja o caso de revisitarmos nossas raízes e fazermos novas propostas a partir do que nos ensina o texto sagrado. Pastoras e pastores, nossa função não é ser porta voz da mídia, ou dos grupos que há muitas décadas vem explorando e subjugando nosso povo. Não precisamos assimilar o que a própria mídia gospel anda pregando.
 Amós era povo, era gente e por isso a sua luta era pela dignidade desses. Era “profetizador”, é mensageiro. Nega-se a assumir títulos, não quer auto-falante como mero transmissor. Relê as tradições e torna a realidade transparente. [2]    Quem somos nós? Em nossa consciência deve estar claro que também somos povo! Também somos gente e essa deve ser nossa prioridade, ajudar na descoberta da dignidade pessoal que desintegra pessoas por fora  e por dentro a partir de experiências de partilha e cooperação.


Thaiana Assis





[1] SCHWANTES, Milton. A Terra não pode suportar suas palavras. São Paulo: Paulinas, 2004. p. 24.
[2]  Ibid., p. 55.